
Revisitar os diferentes passados para se criar o futuro. Diversidade aceleradora de inovação.
- Danton Rodrigues
- 28 de mai. de 2023
- 5 min de leitura
Atualizado: 10 de jun. de 2023

Ainda estava aqui pensando em alguns conteúdos que assisti no SXSW e me peguei pensando em todo esse conhecimento que a gente deixa para consumir depois e acaba não o fazendo. Aproveitei um pequeno tempo extra e naveguei um pouco nos vídeos do app, para relembrar aprendizados e correr atrás de outros e revisitei algumas das minhas anotações e "Otters".
Pude recordar de uma sessão que assisti apresentada por Ted Schilowitz, futurista da Paramount Pictures e Valerie Vacante, VP Solutions Innovations da Dentsu, com o nome "The Future of Entertainment & Immersive Experiences". A dupla abordou como o "entretenimento imersivo" e um bom storytelling influenciam a criatividade, a cultura e as conexões humanas.
Ambos trouxeram a sua receita para inovar:
"Não se constrói o futuro sem olhar para o passado".
Será que fazemos isso com a frequência que deveríamos? Revisitamos nossos métodos e processos para recriar algo novo, algo inovadora de forma incremental ou até mesmo disruptiva?
De uma maneira bastante provocativa, Ted pergunta, "O que te inspirava quando criança?" - Parques, músicas, espaços, temas.

No entretenimento é preciso entender que memórias, emoções e sensações o passado evoca e utilizar ferramentas atuais, como novas tecnologias para potencializá-las.
Durante a conversa, Ted e Valeria debateram que os times esportivos, os grandes festivais de música e shows e os jogos eletrônicos, todos eles evoluem, todos eles acompanham os tempos e trazem maravilhas tecnológicas, mas o resultado que devem perseguir são tão antigos quanto o ser humano, as emoções inesquecíveis.
Se antes, nos reuníamos em volta de um video game para nos divertirmos com os amigos, localmente. Hoje nos reunimos online, com amigos do mundo inteiro para nos divertirmos da mesma forma. A tecnologia mudou mas as emoções não, as lembranças que ficam desse momento não mudaram também.
Assim como a Nonfiction (que mencionei em outro artigo), Schilowitz e Vacante, defendem que por muitas vezes a inspiração pode vir da ficção cientifica e dos mundos que ainda não existem. O conhecimento sobre as emoções do passado e a observação do comportamento das gerações atuais podem ser uma ótima maneira de entender os próximos passos para inovar. Principalmente no entretenimento.
Para Ted, um dos grandes exemplos catalisadores, segundo eles, é o EPCOT Center, cuja sigla significa Experimental Prototype Community of Tomorrow (comunidade experimental do futuro), parque criado por Walt Disney e que antes de ser um parque temático deveria ser uma comunidade com uma visão de amanhã para o nosso mundo.
O projeto de ser uma cidade experimental acabou não indo para frente, mas muita tecnologia ainda é testada nesses parques, e sabemos que a Disney é autoridade quando o tema é entretenimento imersivo.
Após ouvi-los falarem sobre diversas tecnologias, para mim, um dos pontos mais relevantes que essa sessão provocou é que para se criar o novo, não podemos estar confinados pelos limites da nossa própria história e realidade. Por isso a diversidade entra em cena com peso em processos de construção focados em inovação.
E com junho, o mês do Orgulho LGBTQIAP+, batendo à porta, não poderia deixar de falar sobre esse tema que me envolve sempre.
Ter pessoas de diferentes "passados" e com diferentes visões é crucial para para que se obtenha sucesso em um projeto ou iniciativa para que ele seja realmente inovador. Com os mesmos "ingredientes" não se cria nada novo.
Coincidentemente ou não, no mesmo dia em que assisti essa sessão, pude pude comparecer a uma outra onde a speaker era a Dra. Tana M. Session. E o tema era exatamente esse, as ações de diversidade e inclusão no ambiente corporativo e os seus resultados. Com um currículo invejável, Session possui mais de 30 anos na área de recursos humanos, é doutora e especializada em engenharia cultural e atua nas empresas facilitando experiências organizacionais e de desenvolvimento de lideranças, se isso já não bastasse, sua empresa é certificada pela WMBE (Women Minority Business Enterprise) e ela já trabalhou com diversas empresas e organizações, de McDonalds a NASA e acumula títulos como 100 Most Influential Blacks Today.
Para seu speech, Session traz números, e é categórica: Afirma que é preciso "walk the talk" e que a "diversidade é um fato do mundo e a inclusão é uma escolha que uma empresa faz".

Isso é algo que sempre defendo e afirmo sempre que posso em diferentes projetos e processos: Não é possível inovar sem diversidade.
Trabalhar com uma equipe diversa e ter na empresa, uma lista de colaboradores cada vez mais heterogênea pode ser um dos grandes fatores de sucesso do negócio.
Quando afirmo isso, vez ou outra há o questionamento do quanto isso é de fato real. Para aqueles mais conservadores e focados no "volume financeiro", a resposta que podemos dar está bem debaixo do nosso nariz.
Em 2021, o Frank Recruitment Group através de uma pesquisa, afirmou que empresas que possuem mulheres na posição de CEO são mais lucrativas. De acordo com o estudo publicado, a maioria das empresas da Fortune 500 com uma CEO mulher é tipicamente mais lucrativa do que aquelas comandadas por um CEO homem. De acordo com os achados, 87% das 500 principais empresas do ano passado lideradas por uma figura de decisão feminina relataram lucros acima da média, em comparação com apenas 78% das empresas lideradas por homens. E aqui estamos falando apenas do recorte de gênero.
Quando se fala de diversidade de forma geral, estamos olhando para melhores resultados, segurança e até mesmo estabilidade psicológica, e isso tem impacto direto na produtividade.
O Instituto Identidades do Brasil (IDBR) declara a cada 10% de aumento na diversidade étnico-racial, há um aumento de quase 4% na produtividade das empresas.
Apesar de termos dados tão claros, acerca da contribuição de ações de diversidade e inclusão para resultados ainda mais efetivos, ainda há uma grande barreira, o preconceito.
Para se ter uma ideia, no Brasil, 33% das empresas existentes, não contratariam pessoas LGBTQIA+ para um cargo liderança (Center for Talent Innovation, 2021).
Por fim, Dra. Tana afirma, se você é o responsável por alavancar o tema na companhia é preciso trabalhar com dados ao seu favor. Organizar censos, entender a performance dos colaboradores. Com as informações coletadas ela defende que é de sumária importância estabelecer metas e objetivos para diversidade em 3 proporções: Proporção de contratação, proporção de promoção e desligamento. Essa maneira de medir e metrificar é a chave para "convidarmos para festa e garantirmos que todos sejam convidados e estejam confortáveis para dançar", fugindo da armadilha de metas baseadas apenas em contratação, que podem ocasionar em um desenvolvimento não garantido. Para finalizar ela declara que é essencial garantir que a iniciativa esteja ligada diretamente a pessoa que ocupa a posição de CEO e a iniciativa deve possuir recursos próprios.
Você, colega gestor, você valoriza as ações de diversidade e inclusão que acontecem na empresa em que você trabalha? Se não existem ações, você as provoca? Você deveria!
Quando existe uma posição em aberta no seu time, que tal pensar em abrir uma vaga afirmativa e começar esse movimento de mudança? Faça e também provoque os seus companheiros e líderes sobre o tema.
As pessoas diversas agradecem e o resultado financeiro da sua empresa também!
Para saber mais:
Instituto Identidades Brasil - https://simaigualdaderacial.com.br/
Tana M. Session - https://www.tanamsession.com/
Frank Recruitment Group - https://www.frankgroup.com/
Coqual (antigo Center of Talent Innovation) - https://coqual.org/
Números não mentem: diversidade nas empresas aumenta a produtividade: https://exame.com/bussola/numeros-nao-mentem-diversidade-nas-empresas-aumenta-a-produtividade/#
Companies with female CEOs found to be more profitable on average: https://www.techrepublic.com/article/companies-with-female-ceos-found-to-be-more-profitable-on-average/



Comentários